segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

A gota d'água

(Continuando... desculpe o post longo)

Essa história já está ficando chata né? Eu sei que no geral as pessoas não gostam de ler coisas ruins, eu só resolvi contar tudo para as futuras au pairs saberem que nem tudo são flores, já que a maioria dos blogs de au pairs só relata a vida boa: as viagens, saídas e amizades. Eu acho importante relatar tudo, tanto bom quanto ruim porque assim as pessoas podem tomar decisões mais sábias. Então vamos continuar que eu não aguento mais essa história, quero logo contar sobre essa família nova maravilhosa!

Minha vida lá na família francesa não melhorou muito. Toda semana, religiosamente, eu ouvia uma bronca. Com as kids, a coisa era outra. Eu já estava pegando o jeito, aprendendo suas manias e palavras proibidas, como driblar choros e fazê-las me obedecer. 

Até que eu não achava a vida lá ruim não (exceto aos sábados que eu tinha que trabalhar 12h seguidas sem intervalo). A gota d'água foi a viagem à Saint Tropez.

Saint Tropez, ah, Saint Tropez! Um dos lugares mais chiques para passar férias na Europa, pena que fui a trabalho. Não posso negar, é realmente bonita. A água do mar é cristalina, areia clara e as casinhas antigas dão um clima super bacana. Mas não pude aproveitar nada disso.

Passamos duas semanas de férias. Para que não fique nenhum mal entendido em relação a minha situação, vou adotar aspas para a palavra "férias". Que fique claro que era férias para a família, dobro de trabalho para mim.



Na primeira semana, duas amiguinhas das meninas ficaram na casa (uma de 9 e outra de 11 anos). Ou seja, tinha que dar conta de 5 (nas horas das brincadeiras, porque na hora do banho e refeições era com a mãe delas). Meu expediente ia do momento em que o menino acordava (por volta das 8h30) até a hora que ele ia dormir (o que variava entre 21h até 1h da manhã, quando eu tinha que dar uns pitos neles, ajudá-lo a ir ao banheiro ou fazer uns sanduíches noturnos). Ou seja, no geral eu trabalhava todos os dias 12h direto, sem intervalo! (Em um próximo post, vou escrever mais sobre a rotina de uma au pair).

Finalmente domingo chegou, dia de folga, perguntei para os meus hosts se eles poderiam me deixar na cidade para eu passear um pouco (a casa em que estavamos ficava no meio da estrada). A reação que se seguiu foi inesperada.

Meus hosts me falaram que eu não tinha "dia de folga" quando eles saiam de férias. Que as "férias" eram deles, e que portanto eu teria que trabalhar todos os dias. Ela ainda disse: "estamos te pagando a mais, então é para trabalhar a mais. Além disso, estamos no meio do mato, não em Bruxelas, aqui não tem onibus, metro ou tram não, como que você quer ir e voltar do centro? E vai fazer o que lá sozinha?"

Tentei negociar e eles concordaram em me dar um dia a mais de folga quando voltassemos para Bruxelas.  No final da segunda semana, eu já estava contando os segundos, cansada demais.


Ultimate Fight! De volta à Bruxelas.
Jantamos, desfiz as malas, coloquei as roupas para lavar, finalmente a vida estava voltando ao normal...

Na mesma noite, como o mês já tinha virado, fui pedir para a minha host o meu salário e o dinheiro extra  (pelas horas extras que fiz na viagem). A baiana rodou legal nessa hora! (eu não podia tocar na palavra "dinheiro" com a host, assim como não podia tocar na palavra "dormir" com o menino que ele fazia um escândalo).

Quando eu pedi o dinheiro extra, a host respondeu "mas a gente não paga extra para au pair". Opa! Para tudo! Como assim??? Nessa hora eu arregalei os olhos e a discussão só foi piorando. No fim eles me pagaram cem euros a mais, disseram que eu não sabia o que era ser au pair (me mandou pesquisar) e me mandaram fazer as malas pois amanhã eu estaria "dehors" (fora).

(Só para ser justa com a host, no dia seguinte ela disse que eu poderia ficar mais uma semana, para procurar uma nova família, mas eu teria que trabalhar).

Saindo da casa
No dia seguinte fiz as minhas malas e fui para a casa da Larissa (ex au pair), que me salvou! (Obrigada Larissa, não sei o que eu teria feito!). Imaginem uma garota de 50kg, andando por Bruxelas com duas malonas de 20kgs cada, subindo e descendo escada de metro, tentando pegar tram, parando pra olhar mapa e tudo debaixo de chuva. Só consegui porque estranhos me ajudaram no caminho (fico muito grata a essas pessoas). No dia seguinte, migrei para a casa da Carla (au pair aqui também). Foi outro drama para chegar até lá.

Da casa da Larissa fui andando até a estação Nord do trem, comprei minha passagem e subi para a plataforma. Subir foi fácil, tinha escada rolante. Faltando 5min para o trem chegar, escuto um aviso de que tinham mudado de plataforma, lá vou eu descer as malonas (sem escada rolante), subo do outro lado, trem errado; mudo de plataforma (desce e sobe), perco o trem. Desci para pedir informações, guichê de info fechado. Nisso já era meio-dia, fui para o Panos (uma lanchonete) comer um sanduiche, e de repente as lágrimas começaram a cair loucamente, não conseguia controlar... Nesta hora a Carla me ligou e eu não conseguia falar de tanto que soluçava, conversamos por mensagem, expliquei a situação, e de repente ela me liga dizendo que estava indo me buscar de carro. Acho que nunca fiquei tão agradecida na vida pela gentileza do host dela. Minhas mãos já estavam cheias de calos de ficar puxando malão. No carro eu só chorava...

Eles me deixaram ficar lá a semana toda, mas, naquele mesmo dia (domingo) eu tinha uma entrevista marcada com uma família alemã. Eu já estava com vontade de voltar para o Brasil, mas minha amiga me convenceu de, pelo menos, ir na entrevista. Fui, gostei da família, e eles de mim, e tive um novo rematch! Terça daquela mesma semana, ou seja, 4 dias depois de ser expulsa da casa, eu já estava trabalhando de novo.

3 comentários:

Ciça BM disse...

Adoro o seu blog! Continue compartilhando suas experiencias! Beijos e boa sorte.

Luana disse...

Nao ta chato, nao! conta tudo, menina! =)

Patrícia Alves disse...

Nossa!! Que situação que você passou. Graças a Deus apareceram pessoas boas para te ajudar.