terça-feira, 25 de agosto de 2015

País bílingue: como não se perder na Bélgica

Uma coisa que eu preciso contar para vocês é sobre esse negócio de ter três línguas oficiais num país tão pequeno. Faz quase 2 anos, num total, que moro aqui, e não consigo me acostumar. Se você quer dicas para visitar e turistar na Bélgica, aqui vai uma importante. 

Vamos aos fatos. A Bélgica é um país pequeno, do tamanho do estado do Paraná, com 11 milhões de habitantes (menos que a cidade de São Paulo), mas que tem oficialmente três línguas: francês, holandês (também chamado as vezes de "flemish") e alemão (mapa abaixo). 

Mas os próprios belgas consideram o país apenas bi-língue, porque o alemão só é falado mesmo em sete cidadezinhas fronteiriças, por menos de 2% da população. O holandês é o mais popular, falado por quase 60% das pessoas (ou seja, quase metade fala uma língua, quase metade a outra: bilíngue mesmo!). 

Teoricamente a divisão é simples, a metade debaixo da Bélgica fala francês (região denominada como Wallonie), a de cima, holandês (região denominada como Flandres). 


Até aí tudo bem? Deu para acompanhar? Não há nada de estranho. Afinal fatos são fatos, certo? Então agora vamos à prática, o dia-a-dia, e a lição mais importante para os turistas (e futuros migrantes). 

Vou contar uma história que aconteceu comigo. 

Uma vez resolvi visitar a cidade de Tournai (cidade francófona). Peguei o trem em Bruxelas (cidade bilíngue). Deveria fazer baldeação em Kortrijk (cidade flemish – holandês). Antes de subir no trem, como sempre faço, anotei todas as informações (horários, plataformas, estações, nº dos trens – ida e volta) e embarquei.

Chegando em Kortrijk desci do trem (plataforma 1), eu tinha 5 minutos para trocar de trem. Fui até a plataforma do outro trem (plataforma 4 de acordo com o meu papel) e li o painel que informava em que cidades aquele trem ia parar. Não achei “Tournai”. 4 minutos. Reli de novo a lista.  Não era possível, eu tinha simplesmente pulado. Reli. Nada! NADA! 3 minutos. Olhei o número do trem, o horário, destino final. Não era possível, era aquele trem, batia com as minhas informações. Cadê Tournai na lista? 2 minutos... Sai correndo para pegar aquele trem mesmo e Deus que me acude! Trombei com o cobrador e logo perguntei em inglês mesmo (porque não falava holandês e bom... eles não gostam quando você fala em francês numa cidade flemish, fica a dica). As portas fecharam. O cobrador confirmou: eu estava no trem certo. Ufa! O trem partiu.

As setas em vermelho indicam o caminho do trem.
Descobri mais tarde que Tournai estava sim no painel, mas escrito em flemish “Doornik’. Estava em flemish porque Kortrijk é uma cidade flemish. E afinal, para que desperdiçar papel com o francês, certo?

O trem é um meio de transporte público intermunicipal. Faz o país todo. De-norte-a-sul. De holandês a francês. (Não sai da Bélgica). Quando você sobe no trem na parte francófona, todos os avisos são em francês. E somente em francês. Quando ele cruza a fronteira linguística (imaginária), todos os avisos passam a ser em holandês, e somente holandês, e sinto muito se você, francófono, não fala holandês, mesmo se a origem do trem foi de uma região francesa. E vice-versa. Pois é! Boa sorte! 

Que incógnita! E isso também vale para as estradas. Na região sul as placas das cidades estão em francês, cruzando a fronteira (a 110km/h, em segundos) elas mudam para holandês. Se é um país bilíngue, por que então as placas não são escritas nas duas línguas? Por que essa economia de tinta?

Mas o pior é que eu já perguntei para os belgas se eles aprendem na escola o nome das cidades nas duas línguas. E sabe o que responderam? Não! Eles aprendem na língua local. Então perguntei se eles se perdiam... E sim, se perdem (até se acostumarem). Até eles já me confessaram achar isso esquisito! 

Esse sistema faz sentindo num país bilíngue continental como o Canadá, afinal não dá para ir de Montreal à Vancouver no dia-a-dia para ir trabalhar... Mas a Bélgica é um país pequeno, cruzar a fronteira linguística é normal, para muitos faz parte da rotina. Eu não me sinto na Bélgica, me sinto ou na Wallonie (lado francês) ou em Flandre (holandês). A única exceção é a capital, Bruxelas. Apesar de 90% dos habitantes serem francófonos, a capital é oficialmente bilíngue. Lá tudo é sempre nas duas línguas, no trem, no metrô, nas lojas, até nas placas das ruas. Aí sim faz sentido! 



Então, para você não se perder como eu, aqui vai uma lista dos nomes das cidades nas duas línguas:



Kortrijk (holandês) = Courtrai (francês)
Doornik (hol) = Tournai (fr)
Namen (hol) = Namur (fr)
Mechelen (hol) = Malines (fr)
Antwerpen (hol) = Anvers (fr)
Gent (hol) = Gand (fr)
Bergen (hol) = Mons (fr)
Luik (hol) = Liège (fr)
Brugge (hol) = Bruge (fr)* 
Leuven (hol) = Louvain (fr)
Aalst (hol) = Alost (fr)

E uma cidade francesa que faz fronteira com o país, e portanto você verá placas nas duas línguas é Lille (fr) - Rijsel (hol). *(Bruges com "s" é em inglês).

Obs: os trens que vão para o aeroporto internacional estão sendo anunciados em francês e holandês em qualquer região do país, e agora também em inglês e alemão. Ufa! Turista se deu bem!

sábado, 15 de agosto de 2015

Sorvete Brasileiro

Curiosidades que a gente só descobre sobre o Brasil em terras estrangeiras.

Esse é um tópico que acho que vou escrever bastante. É uma curiosidade que sempre tive: quais são as ideias que os estrangeiros fazem do Brasil. E aqui achei uma bem particular: o sorvete.

Sempre que eu ia em algum restaurante ou café por aqui, me deparava com uma sobremesa no cardápio que me intrigava, o "sorvete brasileiro" (braziliaans ijs - em holandês,  glace bresilienne - francês).
A primeira vez que vi, achei que fosse uma sobremesa especial daquele restaurante em particular, mas acabei lendo em tantos outros lugares que fiquei curiosa para saber que tal de sorvete é esse que nós brasileiros tomamos. Então pedi. E me serviram a seguinte receita:
  • uma bola de sorvete de creme
  • uma bola de sorvete de mocca
  • calda de caramelo
  • e pozinho de sorvete (sabe aquela farinha de amendoim?)
  • (e chantily, mas isso é algo típico belga, eles colocam em tudo, item aliás que foi sempre opcional).
E essa foi a receita, com pequenas variações, que recebi na maioria dos lugares onde experimentei. E pensando bem, não é exatamente isso que servem nas lanchonetes no Brasil? Seja um sunday ou uma banana split, ou outro tipo,  o que nos servem é sempre a mesma coisa: 1, 2 ou 3 bolas de sorvete (nós pelo menos temos o privilégio de poder escolher o sabor), melecado com uma calda, às vezes também marshmallow, e... o tal do pozinho de amendoim! É, acho que eles acertam. Nem eu que sou brasileira tinha pensado nisso.


O mais engraçado foi quando vi esse "pozinho de sorvete" nas prateleiras dos mercados. E o nome é realmente "brasileiro", e eu achando que isso fosse algo típico para sorvete, internacional... Bom, os belgas sacaram a maneira brasileira de caprichar no sorvete, só tem um problema: o pozinho aqui não é como o nosso pozinho aí. Aqui é uma bolinha dura. Não consegui definir ainda o que é, diria um açúcar duro, porque não tem gosto de amendoim, mal dá para mastigar.


Só não entendi o porquê do sorvete mocca. No Brasil servem de chocolate mesmo, e se possível "chocolate belga"!